Uma ponte insustentável

                                                       Uma ponte insustentável

Por Ana Lourdes Bal e Gustavo Sousa

  A República enfrenta um período de muita instabilidade política há pouco mais de um ano após o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff. Com a popularidade batendo recordes negativos e atolado em delações e até grampos, o presidente Michel Temer foi se apoiando em muitos senadores e deputados federais para se manter no poder.

   O poder Legislativo, lá atrás, teve responsabilidade no futuro do chefe do executivo ao não autorizar a investigação do mesmo. Apesar de que, dessa vez, o fato em discussão era inédito.  Pela primeira vez na história, um presidente, no exercício do mandato, havia sido denunciado pelo crime de corrupção. Apesar da relevância histórica, a falta de solidez não foi fato recente no governo; tornou-se algo comum desde o seu início. A troca de cadeiras nos ministérios - sendo elas resultados de denúncias - geraram a desconfiança da população, do mercado e da comunidade internacional.

 Vieram os grampos. Sérgio Machado, ex-presidente da Transpetro, foi o responsável por expor o que se conversava, em particular, com os membros do núcleo duro do governo Temer. As conversas  não eram nada republicanas; chegava a se falar em “estancar a  sangria na Lava Jato”, com o único intuito de se proteger das investigações comandadas pela força-tarefa de Curitiba.

 Tudo isso tornou-se coisa pouca quando o país acompanhou assustado o que o desconhecido Joesley Batista tinha pra mostrar. Os áudios foram claros. O Palácio do Planalto, símbolo do poder Executivo, tinha se tornado ambiente de negociatas que em nada contemplavam o interesse público; os interesses em questão eram bem particulares. E o pedido era: “tem que manter isso, viu!”

   E é o puro fisiologismo, tão comum na política brasileira, que vai salvando (por enquanto) a continuidade do mandato do presidente. Os milhões em emendas parlamentares, distribuídos em meio a um período de austeridade, revoltam a população que tanto sofre com os apertos econômicos. Ao que parece, a base aliada encara isso com muita naturalidade. Talvez não entendam ainda a distinção do público-privado e acreditem  na eterna impunidade. Ou até mesmo tenham esquecido que, numa democracia, o poder sempre há de emanar do povo. E o povo sabe o que quer. Um novo caminho para o futuro. De preferência, que não seja uma ponte que não se sustenta.
   

   

Comentários