Aula de teatro de bonecos melhora desempenho acadêmico em escola municipal de Natal
Aula de teatro de bonecos melhora desempenho
acadêmico em escola municipal de Natal
Projeto foi
executado em turma de correção de fluxo com alunos entre 10 e 14 anos
Por Érika Mello
Foto: Arquivo pessoal
Alunos encenam
texto de Câmara Cascudo
Segundo dados
do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) no país, mais de 65% dos
alunos brasileiros no 5º ano da escola pública não sabem reconhecer formas
geométricas como um quadrado, círculo ou triângulo. Aproximadamente 60% não
consegue identificar informações explícitas em uma história de conto de fadas.
No nível mais avançado da educação fundamental (9º ano), cerca de 90% dos
alunos não aprenderam a converter uma medida de metros para centímetros, e 88%
não conseguem citar a ideia principal de um poema. A consequência é o aumento
de reprovação dos alunos, causando um desnivelamento etário nas turmas.
Essa foi a
realidade que Larisse Costa, professora de Artes, encontrou na Escola Municipal
Djalma Maranhão, localizada no bairro de Felipe Camarão, na zona oeste da
cidade de Natal. Em 2013, após dois anos como docente na escola, Larisse pegou
para lecionar a turma do 4º ano “H”, caracterizada como uma turma de correção
de fluxo escolar, pois possuía alunos que apresentavam um histórico de
reprovações e não conseguiram avançar para os anos superiores, com
desnivelamento idade/ano.
“As turmas de
correção de fluxo são compostas por alunos que não conseguiram ser
alfabetizados na idade certa, sendo assim reunidos e integrados em uma turma.
Para essa classificação de alunado, os profissionais de educação da escola
precisam analisar e estudar estratégias para realizar um trabalho pedagógico
diferenciado. O objetivo desse trabalho é corrigir o fluxo, para que ele se
torne contínuo, e não intermitente, fazendo com que o aluno avance nos
estudos”, explica a professora.
Na turma
composta por quinze alunos, entre 10 e 14 anos, foram constatados diversos
aspectos que dificultavam o processo de ensino e aprendizagem em Teatro, tais
como: dificuldade de leitura e escrita, déficit de atenção, agressividade,
dificuldade de socialização, baixa autoestima, timidez e pouca participação nas
atividades propostas.
Pensando em uma
forma de mudar esse quadro, Larisse buscou algo que despertasse o interesse
dessas crianças e jovens pela prática teatral, já que a maioria da turma tinha
pouco conhecimento sobre o teatro tradicional. Em uma conversa com os alunos,
foram citados mestres da cultura popular, de modo que eles demonstraram
conhecer o teatro de bonecos e manifestaram interesse em aprender mais sobre a
arte.
Foto: Arquivo
pessoal
Bonecos
utilizados para apresentação teatral
Em uma conversa
com o coordenador pedagógico, planejou-se a introdução do teatro de bonecos nas
aulas, de uma forma que se aproximasse da realidade e do cotidiano dos alunos.
Decidiram então, trabalhar com o João Redondo do Mestre Chico Daniel, que assim
como os alunos, também residiu em Felipe Camarão”,
A experiência
foi posta em prática ao longo do ano letivo. No decorrer dos bimestres, foi
introduzida a leitura de histórias, que além de promover a concentração, também
exercitou a interpretação e escrita dos alunos. Em conjunto com as fábulas,
também foi trabalhada a parte teórica, abordando temas como o surgimento do
teatro e seus gêneros, dramaturgia e figurino. No último semestre, a profa
Larisse adaptou, juntamente com os alunos, o texto “O Compadre da Morte”, de
Câmara Cascudo, para ser encenado no teatro de bonecos.
Como resultado
da experiência, a professora constatou grandes avanços: “O trabalho com o
teatro contribuiu para sanar algumas dificuldades que a turma possuía, como
baixa autoestima, falta de concentração, falta de socialização entre meninos e
meninas; a turma aprendeu a trabalhar em equipe, e também melhoraram na leitura
e escrita. O único problema que persistiu foi a agressividade, apenas a
experiência com o teatro não foi o suficiente para resolver a questão”, avalia.
A experiência
deu tão certo que se transformou na tese de mestrado de Larisse. O projeto foi
bem recebido pelo orientador, e a banca avaliadora demonstrou bastante
interesse na proposta, que além de trabalhar com a cultura popular potiguar,
ainda pensou em educação pública através do componente curricular Artes, que
acaba se tornando um tema pertinente e desafiador, diante de tantas
dificuldades que os professores da área enfrentam.
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